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Fabiana de Luna

Ter diabetes e morar nos Estados Unidos


DIABETES E VIAGENS - NÃO TENHA MEDO DE MUDANÇAS!

Conheci o Gustavo Nilson em 2001, quando entramos na faculdade!

Estudamos juntos durante os 5 anos do curso de Engenharia Elétrica/Telecom em Minas Gerais. O que tínhamos em comum, além da futura profissão? DIABETES TIPO 1!

E digo mais... não éramos os únicos diabéticos de nossa turma... uma super coincidência!

Pois bem! O Gustavo se mudou há alguns anos para os EUA e vai nos contar como é a vida por lá, tendo diabetes!

Cada país tem uma realidade diferente, um lado bom e outro ruim, vamos conhecer como é ter diabetes na terra do Tio Sam!

Dia(enoite)bética: Conte um pouquinho de você, o que faz, enfim, apresente-se!

Pra quem não me conhece pessoalmente, meu nome é Gustavo Henrique Nilson, tenho 34 anos e sou natural de Indaiatuba (que por sinal não fica na praia) ali pertinho de Campinas e Sorocaba.

Sou formado em engenharia eletrônica e telecomunicações e há 11 anos trabalho com telefonia (pré-paga, 0800, SMS, MMS, IMS, LTE, VoLTE). Com tantas letrinhas assim não é de se espantar que já quase não tenha mais cabelos =)

Dia(enoite)bética: Conte sua vida com o diabetes... há quanto tempo tem, como descobriu, etc...

Minha história com a diabetes vem desde muito tempo. Me lembro que lá nas idas de 1994 (quando o Brasil ainda era tri- no futebol, Ace of Base era o sucesso nas rádios e eu tinha pouco mais de 11 anos). Me lembro muito bem, estava ajudando meu pai com uma digitação no computador quando de repente tive sede. Fui tomar um copo d`água e voltei. 5 minutos depois, outro copo, mais 5 minutos e um terceiro copo. Meu pai me olhou e disse: "Você deve estar com diabetes".

Ahn? Entre idas ao pediatra, endócrino (que me disse que a única coisa que eu não poderia comer era açúcar de cana!!!!!!) e exames de sangue passaram-se mais de 30 dias antes de ter começado a terapia com insulina NPH.

Me lembro que de 70 Kg baixei para 40. Em 30 dias. 1 Kg perdido por dia. Minha professora de piano ainda comentou certo dia: "Gustavo, eu te vi gordo numa semana e magro na outra. O que aconteceu?"

Dia(enoite)bética: O fato de ter diabetes pesou em sua decisão de se mudar de país? Foi empecilho, de alguma forma neste sentido?

Quando, em 2011, resolvi me mudar para os Estados Unidos, já usava a combinação que está na moda hoje: Lantus e Humalog. Mas era muito relaxado, deixava de aplicar as humalog para compensar refeições, não media o nível de açúcar no sangue, enfim... era um relaxado com minha saúde e o resultado disso tudo era minha hemoglobina em torno de 9,5 - 10.

Como me mudei de vez, arrumei uma médica por aqui que deixou claro no seu olhar que eu não tinha jeito e que nem ligava muito pra mim. Como não de levar desaforo pra casa, resolvi começar a usar um CGM (aparelho que mede meu nível de açúcar de 5 em 5 minutos) e usar uma bomba de infusão contínua.

Na primeira visita depois que comecei a usar, lembro que minha hemoglobina baixou para 6.5 e ela assustou. Mas como? Simples, disse pra ela. Eu sou um engenheiro e sei muito bem trabalhar com números e fórmulas; me dê um número inicial, um número final e eu chego lá. Também me ajudaram muito consultas com a "diabetes educator" que é uma pessoa que só cuida da parte de educação mesmo: o que comer, quando comer, como aplicar a insulina corretamente, etc...

Dia(enoite)bética: Como era o seu tratamento no Brasil, e como é nos EUA? Vê muitas diferenças?

Nos Estados Unidos não existe assistência médica pública; TUDO, absolutamente, TUDO é pago. Por isso a escolha de um plano de saúde aqui é tão importante: Insulina suficiente para 30 dias me custa 30 dólares.Se não tivesse plano de saúde sairia 800 (oitocentos!).

É triste, pois me sinto um refém do plano de saúde; tenho uma doença genética que não fiz nada para adquirir e quando vou a farmácia buscar minha medicação sinto que colocam uma arma na cabeça e dizem: "Ou paga o que estamos pedindo ou você morre". Bem assim mesmo.

Aqui utilizdo a Bomba Animas Ping (que não é comercializada no Brasil) com a insulina Humalog.

O Plano de saúde cobre 80% do custo da bomba e insumos, e o restante eu devo pagar. A médica é conveniada do plano de saúde, e é ela quem prescreve meu tratamento.

Morar longe dos pais e amigos é difícil, mas ao mesmo tempo o que não nos mata, nos fortalece. Tive que aprender a cozinhar melhor pra mim, o que comer e quando. Foi aqui, com a educadora, que aprendi a fazer a contagem de carboidratos (lembre-se que a primeira endócrino que visitei na vida me disse só pra não comer açúcar de cana!) e como que diferentes tipos de comida afetam minha glicemia.

Recentemente reduzi meu consumo para menos de 50g de carboidrato por refeição e isso baixou meu consumo de insulina em 50% e meu controle melhorou MUITO mesmo. Raros são os dias em que minha glicemia bate 170 (e ela tem vida própria, JURO! pois não comi nada que fizesse subir tanto hehehe)

Dia(enoite)bética: Como é viver em outro país, tendo diabetes tipo 1? Passe uma mensagem, dica, enfim, para aqueles que sonham em viajar ou viver fora um dia...

A minha dica para quem for viajar por pouco tempo é:

Faça a seguinte conta: Uso X unidades de insulina por dia. Vou ficar Y dias. Logo, X x Y = Z unidades.

Caso você chegue a conclusão que precisa de um frasco, leve dois. Se precisar de dois, leve três.

Viagens se estendem, acidentes acontecem e você pode se encontrar em um outro pais onde você não tem médico ou não existe serviço público de saúde (como nos Estados Unidos) e a última coisa que você quer é terminar com uma conta de 800 dólares por um frasco de insulina.

Me lembro de uma vez quando estava viajando e ela se estendeu eu precisei ir a um hospital me consultar com um médico para conseguir uma receita e assim comprar a insulina. Me lembro da placa que vi lá: "Não se preocupe com nada. ORE. Deus resolverá seus problemas"... Num hospital... essa placa...

Caso você vá viajar por mais tempo (mais de 6 meses, por exemplo) arrume um endócrino que você confie e você possa se consultar de 3 em 3 meses.

Do mais, vale a máxima que uma vez ouvi: "Você é quem tem que entrar no esquema da insulina e não a insulina no seu esquema". Depois que entendi a implicação dessa frase, tudo ficou muito mais fácil!

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